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sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Diferença entre o MDA* e o Novo Testamento


O MDA (Modelo de Discipulado Apostólico)  tem com viés o "um a um". E Jesus? E o Novo Testamento?

O MDA pressupõe que nas longas caminhadas Jesus explora o "um a um". "Pressupõe?" Que segurança há na interpretação a partir de pressuposições? 

O MDA se coloca como o novo mover de Deus assim como o G12 se colocava. E a Igreja Neo-testamentária? E a simplicidade do Evangelho? Não há nada de novo: o "Evangelion" (Boas Novas) é a novidade suficiente ainda hoje, que nos foi revelada em Cristo. É dele que Paulo está falando ao dizer: "Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem mente alguma imaginou o que Deus tem preparado para aqueles que o amam." (1 Co. 2.9)

Jesus andou com 12 e ampliou o grupo até chegar na comissão dos 70. Eles os envia de dois em dois porque foram enviados às ovelhas perdidas da casa de Israel. Culturalmente um judeu não aceita testemunho de apenas uma pessoa. Nada tem a ver com "um a um".

O modelo de liderança neo-testamentária não é "um a um" nem de 12. O MOLINET (Modelo de Liderança Neo-Testamentária) é PLURAL. A começar de Jesus.

Paulo discipulou muitos e disse a Timóteo: "O que de mim recebestes, transmite-o a homens fiéis e idôneos que sejam capazes de transmitir a outros" (2 Tm. 2.2). Aqui é Paulo que foi discipulado por Barnabé e ambos saem em viagem missionária com dois outros discípulos: João Marcos e Silas. Só acontece o "um a um" por causa da divisão.

A ordem de "transmitir a homens idôneos" é plural - está num contexto de seleção de homens maduros para o cuidado pastoral. Maduros porque deveriam ser qualificados não apenas no conhecimento, mas na vida - inclusive com provas de maturidade como líderes de casa (1 Tm. 3.5). E quando fala desses homens cuidadores ele afirma que não podem ser novos convertidos (1 Tm. 3.6). Cursinho nenhum de verão habilita alguém a cuidar do coração de outro.

Um outro momento em que Paulo se considera "um a um" tem um tom negativo: "Somente Lucas está comigo" (2 Tm. 4.11)

Também disse a Tito: "Deixei-te em Creta para que pusesses as coisas em ordem e estabeleces presbíteros." (Tt. 1.5) A liderança neo-testamentária é plural e diz respeito aos "presbiterói" = "anciões" = "homens experimentados" = "pais de família".

Todas as vezes que a Bíblia fala de cuidado pastoral próximo o faz relacionando com maturidade de quem cuida. Inclusive quando aos Colossenses Paulo fala para um cuidar do outro é para aqueles em quem habita ricamente a Palavra de Cristo, em toda a sabedoria (Cl. 3.16). Toda sabedoria e riqueza na Palavra de Cristo não são adquiridos com breves cursinhos, nem com poucos anos de vida cristã comprometida.

É uma questão de maturação orgânica. Não há organismo capaz de digerir alimento sólido se ainda é tempo de leite. Bebê na fé toma leite e só continua no leite quem é negligente. Mas, somente com "o tempo decorrido" é que muitos já deveriam ser mestres (Hb. 5.11-14).

"Ninguém se apresse em ser mestre." (Tg. 3.1) é no sentido de: "Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres." (NVI)

O MDA também explora Tiago 5.16 que sobre a confissão particular a alguém. Equívoco exegético! Todo contexto imediato atribui aos presbíteros - esses homens maduros de quem falamos - a tarefa de ir até o enfermo e ouvir dele a confissão dos pecados, caso haja algum. Aqui não se trata de ter um confidente pessoal a quem se tem que contar tudo.

O pano de fundo dessa carta é judaico e os sacerdotes judaicos tinham costume de associar confissão de pecados para a cura. Realidade que coloca os próprios presbíteros como responsáveis para ouvirem a confissão. 

O MDA é visão pragmática de crescimento quantitativo de Igreja. E sendo pragmáticos precisamos ouvir o testemunho da Editora Cristã Evangélica que produz material didático para a Escola Bíblica: "As Igrejas estão deixando a Escola Bíblica para se ocuparem com cursinhos de liderança que logo se esgotam. A Bíblia é inesgotável e só amadurecem com consistência as Igrejas que a estudam como se faz na escola. Não parte dela. Toda ela. As mais de 15.000 igrejas que usam o nosso material tem testemunho claro de que aqueles que passam pela Escola Bíblica é que normalmente amadurecem e se tornam líderes de excelência." (Parafraseando Abimael de Souza - presidente da Editora)

(Obs. prática: a classe dos adultos levaria cerca 15 anos para estudar os 50 títulos disponíveis, que é um tempo mínimo para pensar em alguém que assuma o cuidado de vidas. Os jovens tem 26 títulos, os adolescentes 10, os juniores 16 e as crianças mais 6).

Outro dado pragmático da Editora é que "a Igreja que não atenta para um currículo expansivo de Escola Bíblica normalmente perdem as ovelhas quando ainda são juniores porque é nessa fase que se ganha e se motiva. Se depois da contação de histórias na educação infantil não é feito um bom trabalho de doutrinação com dinamismo para os juniores, teremos adolescentes desanimados que provavelmente se afastarão ou se tornarão jovens apáticos." (parafraseando Pr. Alan - responsável pelas revistas de juniores)

Então por teologia e por filosofia devemos imitar a Paulo que pregou todos os desígnios de Deus à Igreja de Éfeso, por 3 anos, noite e dia, publicamente e nas casas, e quando foi se despedir reuniu os presbíteros para alertar que lobos não poupariam o rebanho, entre eles mesmos (At. 20.17, 28-31). Em termos práticos o "um a um" pode ter um efeito colateral desastroso por fomentar indiscriminadamente a intimidade. É um ambiente propício para os lobos. 

Sendo assim, qualquer modelo de crescimento de Igreja que não preze pela maturação a partir da perseverança (Rm. 5.3-5) contraria a simplicidade do Evangelho (2 Co. 11.3).

*(Obs.: Depois de muito tempo eu acrescento essa nota: acabei de ser alertado por um irmão que cautelosamente me mostrou ser o radicalismo do MDA coisa de alguns imprudentes apenas. Há igrejas que o fazem com cuidado, entendendo ser uma ferramenta e não a "última e maior visão").

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